Pastor suspeito de feminicídio já foi condenado por matar outra mulher há 24 anos no AC: ‘Fez atrocidades’
8 mins read

Pastor suspeito de feminicídio já foi condenado por matar outra mulher há 24 anos no AC: ‘Fez atrocidades’

Silene de Oliveira Marcílio foi assassinada com pelo menos 16 facadas na zona rural de Senador Guiomard em setembro de 2000. Natalino do Nascimento Santiago, de 50 anos, foi condenado, quase dois anos depois, a 28 anos de prisão pelo crime. Natalino foi condenado por matar Silene na zona rural de Senador Guiomard em 2000
Arquivo pessoal/Cedido pela família ao g1
Natalino do Nascimento Santiago, de 50 anos, o pastor evangélico suspeito de assassinar Auriscléia Lima do Nascimento, em Capixaba, no interior do Acre, foi condenado por matar uma mulher há quase 25 anos. O g1 conversou, com exclusividade, com uma sobrinha de Silene de Oliveira Marcílio, vítima do homem. A parente pediu para não ser identificada.
📲 Participe do canal do g1 AC no WhatsApp
Silene foi estuprada e assassinada no dia 3 de setembro de 2000 na zona rural de Senador Guiomard, cidade natal dele. Por conta do crime, Natalino foi julgado e condenado a 27 anos, sendo 19 pelo assassinato e oito pelo estupro, porém cumpriu apenas seis em regime fechado. Por bom comportamento, ele foi para o semiaberto.
Na época, em 21 de março de 2002, quando ele foi condenado, o crime ainda não era tipificado como feminicídio, lei esta que só foi promulgada em 2015.
Natalino, conhecido como Lino, era considerado integrante da família. Segundo a sobrinha da vítima, o tio dela, viúvo, ajudava o acusado desde criança e disse que ele sempre fazia visitas à família, com amizade com os primos também.
Em setembro daquele ano, ela contou que teve um jogo na zona rural de Senador Guiomard, onde moravam, e Natalino foi participar. “Ele estava um pouco bêbado, além de que também usava drogas. Aí ele quis brigar no campo e apartaram a briga. Meu primo, irmão, tia, disseram para ele ir pra casa dormir”, relatou ela.
LEIA TAMBÉM:
Pastor suspeito de matar a mulher a golpes de facão tem prisão preventiva decretada no Acre
Presidente Dilma sanciona lei do feminicídio
Feminicídios flagrados por câmeras: crimes no AC provocam debate sobre omissão de socorro e o que fazer
Caso Joyce: audiência pública discute situação alarmante de feminicídios no Acre
A sobrinha de Silene continuou narrando que o local onde a tia morava também era na zona rural e muito distante, então ele saiu do jogo e foi para a casa dela. O marido da vítima tinha saído para colher arroz e Silene decidiu ficar em casa com os filhos. Foi nesse instante que Natalino chegou.
“Estavam o filho dela que, na época, tinha 5 anos e a outra filha de 2 anos junto com ela. O que se sabe é que ele saiu correndo com a menina com a faca no pescoço. Meu priminho correu e minha tia pediu pra ele soltar a filha dela, e podia fazer o que quisesse com ela”, mencionou.
Natalino do Nascimento Santiago, de 50 anos, suspeito de matar Auriscléia Nascimento, já foi condenado por homicídio contra outra mulher há 24 anos
Reprodução
Assassinato
Após cometer o crime contra Silene, as crianças contaram aos familiares e à polícia que depois de soltar a menina, Natalino começou a esfaquear a mãe dos dois.
“Só nas costas foram 16 facadas. As crianças se esconderam atrás de uma moita de mato. Ali mesmo ele estuprou ela e fez atrocidades”, afirmou a sobrinha.
Depois do crime contra Silene, Natalino teria ido embora da zona rural e ido para a cidade, onde morava uma tia dele. Ela viu as roupas dele sujas de sangue e desconfiou que algo tinha acontecido. Ele chegou em casa, tomou banho e depois dormiu como se nada tivesse acontecido.
A sobrinha expôs ainda que o tio chegou no outro dia, não encontrou a mulher e nem os filhos e achou que eles tinham ido na casa da mãe dela, pois isso sempre acontecia. Um tempo depois, o marido começou a desconfiar do sumiço e da falta de informações sobre a família.
“Começaram a ligar para os parentes e foram em hospitais do Quinari e Rio Branco e nada. Já no terceiro dia, meus primos chegaram e contaram que o Lino havia matado a mãe deles. Depois que eles saíram e contaram o que aconteceu, meu tio chamou todo mundo para procurar a mulher e acharam o corpo em um estado deplorável. Eles [crianças] ficaram escondidos junto com a mãe morta em uma mata”, relembrou.
Nunca demonstrou arrependimento
A sobrinha afirma que no mesmo dia em que o corpo de Silene foi encontrada, ele foi preso. A roupa suja de sangue foi entregue pela tia dele à polícia. Além disto, Natalino tinha sangue na lateral das unhas, o que ajudou na condenação.
Ainda de acordo com ela, Natalino nunca demonstrou arrependimento pelo assassinato da tia.
“Quando ele saiu, ainda disse que ia matar minha mãe porque ela tinha ido depor. Mas só ficou ameaçando, ninguém chegou a ver depois. Só ouvimos comentários depois que ele tinha assassinado um rapaz e tinha sumido. Depois ficamos sabendo que ele era pastor e agora essa tragédia”, lamentou.
O g1 entrou em contato com o delegado Aldízio Neto, responsável pelas investigações do Caso Auriscléia. Ele confirmou que o crime cometido por Natalino foi no ano de 2000, bem como a identidade da vítima.
“Pesa em seu desfavor sua personalidade, que se mostrou desviada para comportamentos reprováveis, pois o réu manteve envolvimento com mulher casada, e estava à procura da vítima, mesmo sabendo que a mesma já possuía convivência com outro homem”, diz um trecho da sentença que o condenou pelo assassinato.
Auriscléia Lima do Nascimento, de 25 anos, foi assassinada e o marido, Natalino Nascimento, de 50, é o principal suspeito
Arquivo pessoal
Caso Auriscléia
Natalino foi preso pela Polícia Civil no último sábado (14) em uma área de mata da Reserva Legal Promissão, dentro da Reserva Extrativista Chico Mendes (Resex), em Capixaba, após fugir durante quatro dias após o crime que aconteceu no dia 11. O suspeito ainda não tem defesa e, por esse motivo, o g1 não conseguiu contato.
O decreto judicial levou em conta a reincidência criminosa, pois o homem já havia sido condenado duas vezes, inclusive por outro homicídio, ocorrido no bairro Palheiral, em 2011, na capital acreana, sendo que, ao alcançar a progressão de regime, o detento desrespeitou as medidas cautelares e era considerado foragido.
O mandato é datado de 25 de junho do ano passado e a progressão ocorreu em 7 de fevereiro de 2022.
Suspeito de matar a esposa, pastor é preso em área de reserva na cidade de Capixaba
De acordo com o Tribunal de Justiça do Acre (TJ-AC), Natalino já foi condenado a 35 anos de prisão. As penas foram unificadas e voltarão a ser cumpridas em regime fechado. Por conta do crime cometido em Capixaba, o homem poderá ser condenado a uma nova pena caso seja comprovada a autoria dos crimes. Ele ainda vai passar por julgamento.
A decisão cita que a prisão em flagrante foi convertida em custódia preventiva, considerando o risco para as outras vítimas e testemunhas do crime.
Pastor foi transferido para Rio Branco pela polícia por medo de represálias da comunidade
Arquivo/Polícia Civil
VÍDEOS: g1

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *