
‘Ideal é manter sempre o grupo junto’, diz montanhista que fez trilha de vulcão na Indonésia onde Juliana Marins morreu
Os resgatistas chegaram ao corpo da jovem no fim do 4º dia de buscas. Relatos de montanhistas que fizeram trilha de vulcão na Indonésia onde Juliana Marins morreu
Um montanhista com mais de 25 anos de experiência afirma que o ideal é manter o grupo inteiro sempre junto durante trilhas complexas, como no caso da trilha do vulcão Rinjani, na Indonésia, onde a brasileira Juliana Marins foi encontrada morta no 4º dia de buscas depois que ela caiu por centenas de metros após ficar sozinha no percurso.
“O guia e o cliente tem que estar andando juntos. O ideal é que ela não fique sozinha, sempre amparada. O ideal é sempre manter o grupo junto. Mas a gente sabe que grupos mesmo pequenos são heterogêneos”, afirma Silvio Neto, que é presidente da Associação Brasileira de Guias de Montanha.
O vulcão Rinjani, que ainda é ativo, chega a 3.721 metros de altitude e ao redor dele fica um lago. A paisagem atrai muitos turistas de aventura todos os anos, mas é de extrema dificuldade. Uma triatleta que fez a trilha há 10 anos diz que está impactada com a tragédia.
“Hoje eu vejo o risco que eu passei, olho a história dela. Me comoveu bastante e vejo o risco que eu passei. Lá não tem obrigação de equipamentos de emergência, a precariedade dos guias é grande, vários andando descalços, levando peso absurdo, pouca água e pouca comida”, afirma a bióloga e escaladora Isabel Leoni.
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“Eu fiquei parada e senti muito frio, meus dedos quase congelados e duros. Eu comecei a passar mal, tinha aquela poeira, tinha que colocar uma canga no nariz”, relata.
A brasileira Juliana Marins, que tinha 26 anos, caiu em um penhasco na trilha do Monte Rinjani, na Indonésia, no sábado (21) e foi encontrada morta nesta terça-feira (4). A informação foi compartilhada pela família.
O g1 mostrou que o time de socorristas teve de descer o equivalente a um Corcovado pela encosta íngreme para chegar até a jovem.
Equipes de resgate correm contra o tempo para resgatar a publicitária brasileira Juliana Marins, de 26 anos, que se acidentou durante uma trilha no monte Rinjani, na Indonésia
Arquivo pessoal
O passeio
Moradora de Niterói (RJ), Juliana era formada em Publicidade e Propaganda pela UFRJ e atuava como dançarina de pole dance. Desde fevereiro, ela fazia um mochilão pela Ásia e já havia visitado Filipinas, Vietnã e Tailândia antes de chegar à Indonésia.
Na Ilha de Lombok, vizinha a Bali, fica o Monte Rinjani, vulcão ainda ativo que se eleva a 3.721 metros de altitude.
Denúncia de abandono
O acidente ocorreu na madrugada de sábado (21) na Indonésia, meio da tarde de sexta (20) no Brasil. Juliana e mais 6 turistas pegaram a trilha, auxiliados por 2 guias, segundo as autoridades do parque.
A queda foi por volta das 4h de sábado, 17h de sexta no Brasil.
A família de Juliana afirma que ela foi abandonada pelo guia por mais de 1 hora antes de sofrer o acidente. “A gente descobriu isso em contato com pessoas que trabalham no parque. Juliana estava nesse grupo, porém ficou muito cansada e pediu para parar um pouco. Eles seguiram em frente, e o guia não ficou com ela”, disse a irmã, Mariana, em entrevista ao Fantástico.
Segundo informações do parque, Juliana teria entrado em desespero. “Ela não sabia para onde ir, não sabia o que fazer. Quando o guia voltou, porque viu que ela estava demorando muito, ele viu que ela tinha caído lá embaixo”, relata a irmã da brasileira.
Em entrevista ao jornal “O Globo”, o guia Ali Musthofa, de 20 anos, confirmou os relatos da imprensa local de que aconselhou a niteroiense a descansar enquanto seguia andando, mas afirmou que o combinado era apenas esperá-la um pouco mais à frente da caminhada.
Segundo Ali, que atua na região desde novembro de 2023 e costuma subir o Rinjani 2 vezes por semana, ele ficou apenas “3 minutos” à frente de Juliana e voltou para procurá-la ao estranhar a demora da brasileira para chegar ao ponto de encontro.
“Na verdade, eu não a deixei, mas esperei 3 minutos na frente dela. Depois de uns 15 ou 30 minutos, a Juliana não apareceu. Procurei por ela no último local de descanso, mas não a encontrei. Eu disse que a esperaria à frente. Eu disse para ela descansar. Percebi [que ela havia caído] quando vi a luz de uma lanterna em um barranco a uns 150 metros de profundidade e ouvi a voz da Juliana pedindo socorro. Eu disse que iria ajudá-la. Tentei desesperadamente dizer a Juliana para esperar por ajuda”, declarou.
Já com o dia claro, turistas fizeram imagens de Juliana com um drone. Ela estava a 200 metros montanha abaixo — e foram última vez que ela foi vista com vida.
Infográfico mostra como foi queda de brasileira morta em vulcão na Indonésia.
Arte/g1
Imagens falsas deram esperança
Ainda no sábado, autoridades indonésias e até a Embaixada do Brasil em Jacarta informaram que montanhistas tinham conseguido descer até Juliana e dado comida e água à jovem. Um vídeo do suposto socorro chegou a circular.
No domingo, porém, a família descobriu que tudo era mentira — e que Juliana passava fome, sede e frio.
“Recebemos, com muita preocupação e apreensão, que não é verdadeira a informação de que a equipe de resgate levou comida, água e agasalho para a Juliana. A informação que temos é que até agora não conseguiram chegar até ela, pois as cordas não tinham tamanho suficiente, além da baixa visibilidade”, afirmou Mariana na ocasião. A irmã também denunciou que vídeos divulgados como sendo do momento do resgate foram forjados.
O embaixador do Brasil na Indonésia admitiu, em ligação registrada pelo Fantástico, que repassou informações incorretas no início, com base em relatos imprecisos das autoridades locais.
As condições severas do tempo, com oscilações bruscas em poucas horas, o terreno instável e a distância até o ponto da queda dificultaram o socorro.
Um montanhista com mais de 25 anos de experiência afirma que o ideal é manter o grupo inteiro sempre junto durante trilhas complexas, como no caso da trilha do vulcão Rinjani, na Indonésia, onde a brasileira Juliana Marins foi encontrada morta no 4º dia de buscas depois que ela caiu por centenas de metros após ficar sozinha no percurso.
“O guia e o cliente tem que estar andando juntos. O ideal é que ela não fique sozinha, sempre amparada. O ideal é sempre manter o grupo junto. Mas a gente sabe que grupos mesmo pequenos são heterogêneos”, afirma Silvio Neto, que é presidente da Associação Brasileira de Guias de Montanha.
O vulcão Rinjani, que ainda é ativo, chega a 3.721 metros de altitude e ao redor dele fica um lago. A paisagem atrai muitos turistas de aventura todos os anos, mas é de extrema dificuldade. Uma triatleta que fez a trilha há 10 anos diz que está impactada com a tragédia.
“Hoje eu vejo o risco que eu passei, olho a história dela. Me comoveu bastante e vejo o risco que eu passei. Lá não tem obrigação de equipamentos de emergência, a precariedade dos guias é grande, vários andando descalços, levando peso absurdo, pouca água e pouca comida”, afirma a bióloga e escaladora Isabel Leoni.
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“Eu fiquei parada e senti muito frio, meus dedos quase congelados e duros. Eu comecei a passar mal, tinha aquela poeira, tinha que colocar uma canga no nariz”, relata.
A brasileira Juliana Marins, que tinha 26 anos, caiu em um penhasco na trilha do Monte Rinjani, na Indonésia, no sábado (21) e foi encontrada morta nesta terça-feira (4). A informação foi compartilhada pela família.
O g1 mostrou que o time de socorristas teve de descer o equivalente a um Corcovado pela encosta íngreme para chegar até a jovem.
Equipes de resgate correm contra o tempo para resgatar a publicitária brasileira Juliana Marins, de 26 anos, que se acidentou durante uma trilha no monte Rinjani, na Indonésia
Arquivo pessoal
O passeio
Moradora de Niterói (RJ), Juliana era formada em Publicidade e Propaganda pela UFRJ e atuava como dançarina de pole dance. Desde fevereiro, ela fazia um mochilão pela Ásia e já havia visitado Filipinas, Vietnã e Tailândia antes de chegar à Indonésia.
Na Ilha de Lombok, vizinha a Bali, fica o Monte Rinjani, vulcão ainda ativo que se eleva a 3.721 metros de altitude.
Denúncia de abandono
O acidente ocorreu na madrugada de sábado (21) na Indonésia, meio da tarde de sexta (20) no Brasil. Juliana e mais 6 turistas pegaram a trilha, auxiliados por 2 guias, segundo as autoridades do parque.
A queda foi por volta das 4h de sábado, 17h de sexta no Brasil.
A família de Juliana afirma que ela foi abandonada pelo guia por mais de 1 hora antes de sofrer o acidente. “A gente descobriu isso em contato com pessoas que trabalham no parque. Juliana estava nesse grupo, porém ficou muito cansada e pediu para parar um pouco. Eles seguiram em frente, e o guia não ficou com ela”, disse a irmã, Mariana, em entrevista ao Fantástico.
Segundo informações do parque, Juliana teria entrado em desespero. “Ela não sabia para onde ir, não sabia o que fazer. Quando o guia voltou, porque viu que ela estava demorando muito, ele viu que ela tinha caído lá embaixo”, relata a irmã da brasileira.
Em entrevista ao jornal “O Globo”, o guia Ali Musthofa, de 20 anos, confirmou os relatos da imprensa local de que aconselhou a niteroiense a descansar enquanto seguia andando, mas afirmou que o combinado era apenas esperá-la um pouco mais à frente da caminhada.
Segundo Ali, que atua na região desde novembro de 2023 e costuma subir o Rinjani 2 vezes por semana, ele ficou apenas “3 minutos” à frente de Juliana e voltou para procurá-la ao estranhar a demora da brasileira para chegar ao ponto de encontro.
“Na verdade, eu não a deixei, mas esperei 3 minutos na frente dela. Depois de uns 15 ou 30 minutos, a Juliana não apareceu. Procurei por ela no último local de descanso, mas não a encontrei. Eu disse que a esperaria à frente. Eu disse para ela descansar. Percebi [que ela havia caído] quando vi a luz de uma lanterna em um barranco a uns 150 metros de profundidade e ouvi a voz da Juliana pedindo socorro. Eu disse que iria ajudá-la. Tentei desesperadamente dizer a Juliana para esperar por ajuda”, declarou.
Já com o dia claro, turistas fizeram imagens de Juliana com um drone. Ela estava a 200 metros montanha abaixo — e foram última vez que ela foi vista com vida.
Infográfico mostra como foi queda de brasileira morta em vulcão na Indonésia.
Arte/g1
Imagens falsas deram esperança
Ainda no sábado, autoridades indonésias e até a Embaixada do Brasil em Jacarta informaram que montanhistas tinham conseguido descer até Juliana e dado comida e água à jovem. Um vídeo do suposto socorro chegou a circular.
No domingo, porém, a família descobriu que tudo era mentira — e que Juliana passava fome, sede e frio.
“Recebemos, com muita preocupação e apreensão, que não é verdadeira a informação de que a equipe de resgate levou comida, água e agasalho para a Juliana. A informação que temos é que até agora não conseguiram chegar até ela, pois as cordas não tinham tamanho suficiente, além da baixa visibilidade”, afirmou Mariana na ocasião. A irmã também denunciou que vídeos divulgados como sendo do momento do resgate foram forjados.
O embaixador do Brasil na Indonésia admitiu, em ligação registrada pelo Fantástico, que repassou informações incorretas no início, com base em relatos imprecisos das autoridades locais.
As condições severas do tempo, com oscilações bruscas em poucas horas, o terreno instável e a distância até o ponto da queda dificultaram o socorro.