Amyipaguana, Kizomba e Kaá-Eté: Caprichoso apresenta projeto cultural para 58º Festival de Parintins
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Amyipaguana, Kizomba e Kaá-Eté: Caprichoso apresenta projeto cultural para 58º Festival de Parintins

Com o tema “É tempo de retomada”, boi azul aposta na descolonização para conquistar o tetracampeonato na arena do Bumbódromo. Amyipaguana, Kizomba e Kaá-Eté: Caprichoso apresenta projeto cultural para 58º Festival de Parintins.
Matheus Castro/Rede Amazônica
Amyipaguana, Kizomba e Kaá-Eté. Esses são os subtemas que serão abordados pelo boi-bumbá Caprichoso nas três noites do 58º Festival Folclórico de Parintins, que acontece neste fim de semana, no interior do Amazonas. A apresentação oficial do projeto de arena ocorreu na noite desta quarta-feira (25).
Neste ano, o Caprichoso leva à arena o tema “É tempo de retomada” e promete uma apresentação grandiosa para enfrentar seu tradicional rival, o Garantido, boi vermelho e branco, nos dias 27, 28 e 29 de junho. O duelo acontece em Parintins, cidade localizada no Rio Amazonas, na divisa entre os estados do Amazonas e Pará.
A apresentação do projeto contou com a presença do presidente Rossy Amoedo e dos itens oficiais do boi: o apresentador Edmundo Oran, o amo do boi Caetano Medeiros, o pajé Erick Beltrão, a sinhazinha da fazenda Valentina Cid, a cunhã-poranga Marciele Albuquerque, a porta-estandarte Marcela Marialva e a rainha do folclore Cleise Simas.
Ao g1, Rossy Amoedo falou sobre a preparação do bumbá para o festival e destacou a união de talentos parintinenses na construção do espetáculo:
“Ao longo desses meses de trabalho houve muita dedicação, muito empenho. Então o resultado que o Boi coloca hoje na arena, quando juntar as peças de apresentação, figurino, alegoria, e tudo aquilo que eles vão mostrar dentro da arena vai ser um somatório muito bom, de muita coisa bacana, de muita energia positiva, de um trabalho feito pelas pessoas de Parintins, artistas parintinenses, de apaixonados pelo nosso Caprichoso”, declarou.
1ª noite
Inspirado nas lutas dos povos indígenas, negros e nordestinos, o boi azul representa a resistência cultural diante da colonização, exploração e opressão. A narrativa do bumbá é construída a partir de raízes profundas no território amazônico, destacando a força de quem enfrentou a escravidão, a marginalização e o preconceito, mas também a espiritualidade, a esperança e os sonhos de um povo que persiste em meio às adversidades.
Na arena, o Caprichoso se apresenta como um grito de afirmação e retomada das culturas ancestrais e populares. Seu espetáculo reflete a diversidade e complexidade dos povos da Amazônia, e denuncia as perdas causadas pela exploração desenfreada da natureza e pelo apagamento das tradições. A missão do boi azul é manter viva a memória, a identidade e a força de sua gente, exaltando a beleza, a resistência e a espiritualidade de um Brasil profundo, simbolizado em suas toadas, alegorias e rituais.
2ª noite
O Boi Caprichoso se apresenta como símbolo vivo da memória e resistência do povo negro na Amazônia, especialmente em Parintins. Em um texto em primeira pessoa, o boi narra sua trajetória marcada pela dor da escravidão, pela exclusão histórica dos corpos pretos e pela luta contra o apagamento cultural. Ao mesmo tempo, exalta a força ancestral herdada da África, das comunidades quilombolas e das tradições afro-amazônicas que resistem até hoje no território.
O boi azul se apresenta, assim, como um “Boi Negro de Parintins”, forjado na dor e no amor, na luta e na memória dos que vieram antes. Na arena, esse grito se transforma em festa, em toada e em resistência, com homenagens às tradições afro-religiosas e às raízes do povo preto da floresta. O projeto artístico e cultural do Caprichoso evoca nomes, símbolos e práticas que resistem ao tempo e à opressão, reafirmando que “não se esquece o que doeu e que nos fez existir”.
3ª noite
O Boi Caprichoso volta à arena com um discurso onde reafirma sua missão de representar o povo da Amazônia em toda sua diversidade e ancestralidade. Falando em primeira pessoa, o boi azul evoca dores e lutas vividas pelo povo amazônida — marcado por massacres, violências de gênero, colonização e apagamento cultural — mas também exalta a força da floresta, da espiritualidade indígena, da cultura negra e da sabedoria das mulheres que moldam a identidade local.
Com referências a lideranças como Ailton Krenak, Chico Mendes e às mulheres indígenas da Marcha de Pindorama, o texto destaca a urgência de defender a Amazônia não apenas como território, mas como um modo de vida. Ao convocar o público a se tornar aliado na luta por justiça climática e social, o Caprichoso declara que este é um tempo de retomada — retomada da memória, das raízes e da consciência de que proteger a floresta é proteger toda a humanidade.
Itens mantêm mistério e elevam expectativa
De acordo com os itens oficiais, o Caprichoso mostrou apenas uma amostra do que está por vir durante o ensaio técnico realizado na terça-feira (24), no Bumbódromo. A estratégia aumenta a expectativa da torcida e reforça a responsabilidade do boi azul e branco na busca pelo tetracampeonato.
“Um ano inédito, um título inédito, e a gente tá trabalhando quatro vezes mais pra conquistar esse título, pra gente comemorar muito. Mas, com certeza, a gente tá trabalhando muito, porque toda vez que é um título inédito, não é muito simples de ser conquistado, né? E, com certeza, eu acredito e confio muito no projeto e na grandiosidade do meu boi Caprichoso”, disse a porta-estandarte Marcela Marialva.
A rainha do folclore, Cleise Simas, também preferiu manter o mistério sobre o que o boi vai levar à arena, mas garantiu um espetáculo surpreendente:
“Eu quero falar para a minha nação azul e branca que eles podem esperar muito mais do que foi feito ontem. […] existe muita coisa que a gente realmente só leva para a Arena, então a minha nação sabe que podem contar com a rainha campeã, uma rainha que vai inovar como sempre. Mas é isso. No Caprichoso, a gente trabalha ali fazendo o nosso melhor sempre. Na sexta-feira isso vai ser visto”

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