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A tensão dos brasileiros que esperam ajuda para sair do Irã

Segundo a embaixada brasileira no Irã, atualmente há entre 50 e 200 brasileiros vivendo no país; grupo aguarda ações para serem evacuados do país, que está em guerra há quase uma semana
O brasileiro Antônio Guerra Peixe chegou ao Irã no começo de abril para ajudar a treinar a federação adulta de handebol de areia do país persa sem imaginar que pouco tempo depois seria surpreendido pelo início do conflito entre Israel e Irã.
“Estávamos no aeroporto de Teerã prontos para embarcar quando escutei uma explosão meio longe, bem baixa mesmo. Senti o olhar estranho das pessoas, começou um certo alvoroço no saguão e depois o nosso voo foi cancelado. Desse momento até agora foi só ladeira abaixo. Do aeroporto fui transferido para este hotel onde estou há vários dias”, relata o carioca de 68 anos.
Antônio faz parte de um grupo de brasileiros que está esperando ações da embaixada brasileira para serem evacuados para fora do país que está em guerra há quase uma semana.
Segundo a embaixada brasileira no Irã, atualmente há entre 50 e 200 brasileiros vivendo no país.
“Até agora cerca de dez brasileiros entraram em contato com a embaixada para pedir repatriação. Nesse grupo há atletas, treinadores e também turistas. Estamos avaliando a possibilidade de levá-los até alguma fronteira, estamos vendo orçamento de transporte porque é um deslocamento longo. Neste momento, a opção mais viável seria sair pela fronteira do Azerbaijão”, explica Felipe Flores Pinto, encarregado de negócios da embaixada brasileira no Irã.
Antônio não sai do hotel desde que voltou do aeroporto e diz que se sente relativamente seguro na região norte de Teerã, mas que o seu maior desejo é poder abandonar o país o mais rápido possível.
“Falo com a embaixada brasileira diariamente, eles estão sendo muito gentis e solícitos, mas cada dia sinto que está mais arriscado ficar aqui. Acho que está demorando muito para que a gente seja evacuado”, diz.
Dia a dia em um país em guerra
A capital do Irã e outras cidades do país têm sido alvo de vários bombardeios desde a última quinta-feira. De acordo com a ONG americana Human Rights Activists, mais de 580 pessoas perderam a vida até agora no país persa por conta do conflito bélico.
O treinador brasileiro conta que há poucos hóspedes nesse hotel, que fica no setor três de Teerã, em uma área residencial e de várias embaixadas, e que além dele há outros estrangeiros resguardados no mesmo edifício.
“Quando olho pela janela não vejo movimento algum, absolutamente ninguém circulando na rua. Até agora não faltou comida, mas hoje percebi que o café da manhã ficou um pouco mais reduzido se comparado com o dos primeiros dias. Vi menos opções de sucos e de frutas, mas não tem escassez.”
Antônio diz que o seu hotel conta com uma parte subterrânea para que as pessoas possam se refugiar.
“Outro dia ouvimos algumas explosões e foi um momento tenso. Aqui no hotel eles avisaram que se a situação esquentasse a gente poderia descer, mas até agora não fui pra lá.”
O diplomata brasileiro diz que há poucos comércios abertos em Teerã, mas que serviços públicos como eletricidade e água, por enquanto, seguem funcionando.
“A cidade não colapsou. O grande impacto que vimos até agora é o esvaziamento das ruas. As pessoas saíram da capital e foram para suas residências de veraneio ou para suas cidades de origem. Alguns supermercados continuam abertos e muita gente está estocando comida. Pra comprar carne ou arroz está um pouco mais complicado agora”, conta.
Enquanto ainda não há uma data nem um plano concreto para a repatriação dos brasileiros, Antônio diz que prefere nem ler muita notícia porque em cada lugar dizem uma coisa diferente.
“A contrainformação também é uma arma de guerra. Todo mundo que está no Brasil fica me escrevendo pra eu sair logo daqui, mas a logística não é assim tão fácil”, desabafa o treinador.
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