Prefeito de Sorocaba usou ‘dinheiro vivo’ para comprar imóvel de luxo, diz PF; empresa da primeira-dama recebeu R$ 750 mil da igreja da irmã
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Prefeito de Sorocaba usou ‘dinheiro vivo’ para comprar imóvel de luxo, diz PF; empresa da primeira-dama recebeu R$ 750 mil da igreja da irmã

Instituição religiosa também é investigada na Operação Copia e Cola, que ocorreu em 10 de abril. Por meio dos advogados, prefeito e primeira-dama afirmaram “que seus nomes foram mencionados nessa investigação de forma indevida e em nítida perseguição política”. Primeira-dama Sirlange Frate, esposa do prefeito de Sorocaba (SP), Rodrigo Manga (Republicanos)
Sirlange Frate/Instagram/Reprodução
O prefeito de Sorocaba (SP), Rodrigo Manga (Republicanos), que ficou conhecido nas redes sociais como “prefeito tiktoker”, pagou R$ 183 mil em “dinheiro vivo” como entrada para um imóvel de alto padrão em um condomínio fechado, localizado na zona leste da cidade.
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O imóvel, que é onde o prefeito vive atualmente, foi alvo de um mandado de busca e apreensão da Polícia Federal no dia 10 de abril, durante a operação Copia e Cola. A primeira-dama de Sorocaba, Sirlange Maganhato, também é investigada no caso. Entenda mais abaixo.
Conforme a investigação, duas compras em nome do prefeito foram identificadas pela Polícia Federal. A primeira usando R$ 183 mil – em “dinheiro vivo”, sem comprovação de origem – para a compra da casa do prefeito no condomínio Chácara Ondina. O dinheiro foi uma parte do total de R$ 1,5 milhão, sendo o restante quitado em um financiamento.
A TV TEM e o g1 procuraram a defesa de Rodrigo Manga e da primeira-dama, que também é alvo da investigação. Por meio dos advogados, os dois afirmaram “que seus nomes foram mencionados nessa investigação de forma indevida e em nítida perseguição política”. Confira o posicionamento completo mais abaixo.
Esta é a primeira reportagem de uma série especial que mostra informações, obtidas com exclusividade pela TV TEM e pelo g1, do inquérito da Polícia Federal que investiga ao menos 10 pessoas e diversas instituições, por meio da Operação Copia e Cola.
R$ 750 mil da igreja
Empresa da primeira-dama de Sorocaba recebeu R$ 750 mil de igreja da irmã, aponta investigação da PF
Reprodução/TV TEM
Com a quebra do sigilo bancário da empresa da primeira-dama de Sorocaba, Sirlange Frate Maganhato — autorizada pela Justiça a pedido da Polícia Federal —, foram identificadas movimentações nos nomes da irmã de Sirlange, Simone Rodrigues Frate Souza, e do cunhado, Josivaldo Batista de Souza.
A pastora Simone é casada com o pastor Josivaldo, e os dois são donos da igreja “Cruzada dos Milagres dos Filhos de Deus”, que tem duas unidades em São Paulo. A organização religiosa foi fundada em junho de 2020.
Os dados coletados pela PF apontaram que, em um período de dois anos, a empresa da primeira-dama recebeu R$ 750 mil da igreja. O relatório da polícia também cita que há um padrão nas movimentações: o uso de boletos para dificultar a identificação dos recursos.
Suposta lavagem de dinheiro
De acordo com o relatório da PF, também há indícios de lavagem de dinheiro na compra de imóveis por parte de uma empresa do empresário Marco Mott, amigo pessoal de Rodrigo Manga. Entenda abaixo a relação dele com o prefeito.
As informações serviram de base para que o Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3) autorizasse a operação Copia e Cola, para apurar desvios de recursos da saúde.
Entre os bens adquiridos, estão imóveis comerciais nos bairros Campolim e Jardim Vergueiro, além de uma casa no condomínio Chácara Ondina, o mesmo onde o prefeito comprou uma casa.
Marco Mott é suspeito de operações esquema de corrupção em Sorocaba (SP)
Reprodução/TV TEM
Ao analisar as negociações, o perito da Polícia Federal apontou que as “compras realizadas por Marco Silva Mott foram celebradas com o artifício de subavaliação do real valor das transações de compra e venda de imóveis” – o que corresponde a métodos de “lavagem de dinheiro”.
Isto significa que a compra foi declarada por um valor menor do que os imóveis valem, de fato, no mercado. Em um dos casos, a escritura registrou a compra por R$ 450 mil, mas o pagamento efetivo superou R$ 1 milhão.
Amizade com suposto operador
Posts nas redes sociais do prefeito mostram a relação de amizade dele com Marco Mott. Na investigação da PF, há citação para uma chamada de vídeo dos dois, intitulada “ligação de vídeo de milhões”, e que foi obtida com exclusividade pela TV TEM e pelo g1.
O empresário, amigo de infância do prefeito, é apontado como um dos operadores financeiros dele e da primeira-dama. Segundo a investigação, Mott teria atuado no desvio de milhões de reais de recursos públicos da saúde municipal.
Com o levantamento das informações bancárias, autorizado pela Justiça, foram localizados mais de R$ 6 milhões de reais nas contas pessoais e empresariais ligadas a Mott. Estes depósitos foram feitos em dinheiro vivo e sem origem comprovada. Veja mais informações abaixo.
Suposto operador de esquema investigado pela Polícia Federal é flagrado fazendo depósito em banco de Sorocaba (SP)
Reprodução/TV TEM
Uma das transações monitoradas foi registrada por câmeras de segurança de um banco de Sorocaba. No vídeo, pedido pela Polícia Federal, é possível ver que no dia 2 de março de 2023, às 14h40, Mott aparece na agência, que fica no Centro da cidade, com uma mochila nas costas e mexendo no celular.
Na imagem, destacada pela PF, dá para ver vários montantes de dinheiro. O banco confirmou que ele depositou R$ 20,4 mil reais. Outra câmera flagrou a saída dele três minutos depois. Veja acima.
A liberação judicial de dados bancários e fiscais levantou a suspeita de que a amizade foi usada para mascarar crimes, entre eles: organização criminosa, corrupção e lavagem de dinheiro. A investigação aponta que, entre 2021 e 2023, Marco Mott ou suas empresas transferiram mais de R$ 210 mil reais para a 2m Comunicação e Assessoria LTDA., empresa registrada em nome da primeira-dama de Sorocaba. Este período é o mesmo em que o empresário fez os depósitos em dinheiro vivo.
Trânsito livre na prefeitura
Mott não é político e não possui cargo público, segundo a PF, mas, desde 2021, quando o prefeito Rodrigo Manga assumiu o cargo, ele passou a ter trânsito livre no prédio da prefeitura e participou de oito reuniões com secretários e empresários dentro do prédio público.
Cruzando as datas dessas reuniões com os depósitos em dinheiro vivo, a Polícia Federal identificou que, em cinco ocasiões, o amigo do prefeito saiu da sala de reunião no primeiro andar do Paço Municipal e foi até o banco fazer depósitos.
Coaf aponta cédulas malcheirosas de operador de suposto esquema de corrupção em Sorocaba (SP)
Reprodução/TV TEM
Ainda conforme a corporação, os valores movimentados pelo empresário seriam provenientes de corrupção, de contratos fraudulentos na área da saúde de Sorocaba. No nome de Mott e das empresas que possui, a polícia identificou a movimentação de mais de R$ 6 milhões em espécie, sem origem comprovada.
De acordo com o relatório da investigação, foram 52 depósitos fracionados, em espécie e que chamaram atenção dos órgãos de fiscalização, como o conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Além do volume financeiro não estar compatível com a atividade exercida pelo empresário, as notas “estavam úmidas, malcheirosas e eram armazenadas em local impróprio”.
O que dizem os citados
Polícia Federal investiga suposto esquema de corrupção em Sorocaba (SP)
Reprodução/TV TEM
Em nota, os advogados Daniel Leon Bialski, Bruno Garcia Borragine, André Bialski, Flávia Maria Ebaid e Júlia Zonzini, que representam o prefeito Rodrigo Manga e a primeira-dama Sirlange Rodrigues Frate Maganhato, afirmaram “que seus nomes foram mencionados nessa investigação de forma indevida e em nítida perseguição política”.
“Todas as operações financeiras mencionadas possuem origem lícita e devidamente corroboradas por documentação, declaradas no Imposto de Renda e, algumas, inclusive, realizadas através de financiamento bancário. A defesa já apresentou diversos documentos à justiça, comprovando a legalidade de todas essas transações”, diz a nota.
Disseram ainda que aguardam com brevidade o arquivamento do procedimento.
Em nota, a prefeitura de Sorocaba reforçou que as operações são lícitas e que aguarda o arquivamento. A administração municipal não respondeu se tinha conhecimento das reuniões de Marco Mott com secretários municipais, como relatado pela Polícia Federal.
A reportagem também tentou contato com a irmã de Sirlange, Simone Rodrigues Frate Souza, e com o cunhado, Josivaldo Batista de Souza, mas não teve retorno.
Já empresário Marco Mott não havia sido localizado até a última atualização desta reportagem.
Sobre a operação
O objetivo da operação, segundo a Polícia Federal, é desarticular uma organização suspeita de desvios de recursos públicos na área da saúde, e, entre os alvos, o prefeito de Sorocaba.
Foram expedidos, no dia 10 de maio, 28 mandados de busca e apreensão em 13 cidades do estado de São Paulo e da Bahia. Não houve mandados de prisão.
As equipes da Operação Copia e Cola estiveram na sede da Prefeitura Municipal de Sorocaba (SP), na casa e no gabinete do prefeito, na Secretaria de Saúde da cidade, no Diretório Municipal do partido e na casa do ex-secretário da saúde, Vinicius Rodrigues.
R$ 600 mil apreendidos e R$ 20 milhões bloqueados
Além do suposto envolvimento do ex-secretário Vinicius Rodrigues, está sendo investigada a participação do ex-secretário de Governo e Administração Fausto Bossolo, que deixou o governo em 2022.
Os investigados poderão responder pelos seguintes crimes:
corrupção passiva;
corrupção ativa;
ocultação de capitais (lavagem de dinheiro);
peculato;
contratação direta ilegal;
frustração de licitação.
Mais de 100 policiais federais cumprem mandados de busca e apreensão nos seguintes municípios:
Sorocaba (SP);
Araçoiaba da Serra (SP);
Votorantim (SP);
Itu (SP);
São Bernardo do Campo (SP);
São Paulo,
Santo André (SP);
São Caetano do Sul (SP);
Santos (SP);
Socorro (SP);
Santa Cruz do Rio Pardo (SP);
Osasco (SP);
Vitória da Conquista (BA).
Policiais federais deixaram o Paço Municipal de Sorocaba (SP) por volta das 10h40 desta quinta-feira (10), levando documentos
Letícia Paris/TV TEM
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