5 mins read
Iranianos compartilham ‘últimas fotos’ de suas casas após ordem de evacuação: ‘Insuportavelmente difícil’
Moradores de Teerã enfrentam congestionamento e filas nos postos de gasolina para fugir da cidade e escapar dos ataques de Israel Os sofás estão vazios, só se vê algumas malas. Na sala, almofadas, vasos de plantas e enfeites estão organizados diante de cortinas fechadas.
Uma tendência comovente está circulando nas redes sociais de língua persa: a ‘última foto’ de casa. São imagens compartilhadas por moradores de Teerã antes de fecharem as portas e deixarem a cidade para trás.
Com os bombardeios de Israel ao Irã, muitas pessoas na capital decidiram enfrentar o engarrafamento e filas nos postos de gasolina para fugir, sem saber se suas casas estarão intactas quando elas conseguirem voltar.
Uma delas escreveu: “Eu guardei lembranças de pessoas queridas, separei o essencial, reguei as plantas e peguei a estrada. Sair de casa é insuportavelmente difícil quando você não sabe se um dia vai voltar.”
Outra disse: “Minha casa nunca pareceu tão triste. Eu não sei se conseguirei voltar para cá.”
Um usuário postou uma foto do seu espaço de trabalho, com computador e fones de ouvido, e escreveu: “Eu disse adeus para as coisas que eu trabalhei duro para conseguir, coisas que me custaram noites sem dormir e cabelos brancos. Eu espero que elas ainda estejam aqui quando eu voltar.”
Outro morador da cidade, que tem 10 milhões de habitantes, contou sobre quando chegou à Teerã “cheio de sonhos para universidade e trabalho”.
E acrescentou: “Eu comprei e arrumei cada coisa na minha casa com amor e esforço. Eu me despedi em silêncio, torcendo para um dia voltar ao meu refúgio querido e seguro.”
Essas pessoas já haviam tomado a decisão de sair bem antes de Israel emitir uma ordem de evacuação nesta segunda (16/06).
O Exército israelense informou que os moradores deveriam deixar “imediatamente” uma grande área do norte de Teerã, indicando partes da cidade no mapa.
Isso aconteceu no quarto dia de ataques aéreos de Israel ao Irã, que já mataram pelo menos 224 pessoas. Os ataques de mísseis de retaliação de Teerã contra cidades israelenses deixaram ao menos 24 mortos.
Os ataques israelenses começaram focando em instalações nucleares, militares e em altos funcionários. Mas, à medida que a campanha se ampliou, a capital do Irã foi atingida várias vezes, inclusive em áreas residenciais, gerando medo entre os moradores.
Jornalistas da BBC não conseguem reportar de dentro do Irã devido às restrições impostas pelo governo do país, mas alguns iranianos compartilharam suas experiências com a BBC Persa — serviço em persa da BBC.
Alguns moradores informaram ter decidido ficar por terem pais idosos, crianças pequenas, necessidades médicas ou, simplesmente, por falta de opção.
Uma mulher relatou à BBC que ela está grávida e tem uma filha pequena: “Como eu vou sobreviver nesse trânsito? Tudo que eu construí está aqui… para onde eu iria?”
Outra disse que é solteira e não queria se arriscar a fazer sozinha a jornada de 800 km até sua família, em Shiraz. “Mesmo eu tendo carro, o que mais me assusta em deixar Teerã é a distância, a falta de combustível e outros problemas que possam surgir como o carro quebrar”, afirmou.
Ela disse que amigos que deixaram Teerã ficaram presos no trânsito por horas.
“O que normalmente leva de 10-12 horas, levou 20. E não há passagem de ônibus disponível.”
Uma mulher, de 40 anos, e que tem dois filhos pequenos, contou à BBC que ela “não vai a lugar nenhum”.
“Sendo muito sincera, eu estou exausta demais para pensar em deixar a cidade e depois voltar para encontrar minha vida destruída. Trabalhei muito duro todos esses anos, passei pela Covid, inflação, tudo. Eu lutei muito para chegar até aqui. Se tudo vai ser arruinado, então prefiro que eu e meus filhos fiquemos com a nossa casa, porque eu não tenho forças para começar tudo de novo.”
Esse dilema também é sentido, de forma dolorosa, por milhões de iranianos que vivem fora do país, e se preocupam com seus entes queridos, tentando manter contato por meio de conexões instáveis de internet.
Um usuário do Instagram escreveu: “A gente achava que a parte mais difícil da imigração era a saudade de casa. Mas agora, com a guerra, a gente aprendeu o que é a verdadeira angústia de estar longe.”
Alguns iranianos que vivem no exterior disseram que seus parentes se recusaram a sair, apesar dos apelos.
Em resposta a mensagens como essa, um morador da capital escreveu: “Alguns de nós não têm dinheiro. Alguns não têm pra onde ir. Não nos digam simplesmente para sair.”
Qual a origem da rivalidade entre Israel e Irã
Quem é o líder supremo do Irã, Ali Khamenei, e qual a influência de sua família?
De que lado estão as grandes potências — e o Brasil — no conflito entre Israel e Irã
Uma tendência comovente está circulando nas redes sociais de língua persa: a ‘última foto’ de casa. São imagens compartilhadas por moradores de Teerã antes de fecharem as portas e deixarem a cidade para trás.
Com os bombardeios de Israel ao Irã, muitas pessoas na capital decidiram enfrentar o engarrafamento e filas nos postos de gasolina para fugir, sem saber se suas casas estarão intactas quando elas conseguirem voltar.
Uma delas escreveu: “Eu guardei lembranças de pessoas queridas, separei o essencial, reguei as plantas e peguei a estrada. Sair de casa é insuportavelmente difícil quando você não sabe se um dia vai voltar.”
Outra disse: “Minha casa nunca pareceu tão triste. Eu não sei se conseguirei voltar para cá.”
Um usuário postou uma foto do seu espaço de trabalho, com computador e fones de ouvido, e escreveu: “Eu disse adeus para as coisas que eu trabalhei duro para conseguir, coisas que me custaram noites sem dormir e cabelos brancos. Eu espero que elas ainda estejam aqui quando eu voltar.”
Outro morador da cidade, que tem 10 milhões de habitantes, contou sobre quando chegou à Teerã “cheio de sonhos para universidade e trabalho”.
E acrescentou: “Eu comprei e arrumei cada coisa na minha casa com amor e esforço. Eu me despedi em silêncio, torcendo para um dia voltar ao meu refúgio querido e seguro.”
Essas pessoas já haviam tomado a decisão de sair bem antes de Israel emitir uma ordem de evacuação nesta segunda (16/06).
O Exército israelense informou que os moradores deveriam deixar “imediatamente” uma grande área do norte de Teerã, indicando partes da cidade no mapa.
Isso aconteceu no quarto dia de ataques aéreos de Israel ao Irã, que já mataram pelo menos 224 pessoas. Os ataques de mísseis de retaliação de Teerã contra cidades israelenses deixaram ao menos 24 mortos.
Os ataques israelenses começaram focando em instalações nucleares, militares e em altos funcionários. Mas, à medida que a campanha se ampliou, a capital do Irã foi atingida várias vezes, inclusive em áreas residenciais, gerando medo entre os moradores.
Jornalistas da BBC não conseguem reportar de dentro do Irã devido às restrições impostas pelo governo do país, mas alguns iranianos compartilharam suas experiências com a BBC Persa — serviço em persa da BBC.
Alguns moradores informaram ter decidido ficar por terem pais idosos, crianças pequenas, necessidades médicas ou, simplesmente, por falta de opção.
Uma mulher relatou à BBC que ela está grávida e tem uma filha pequena: “Como eu vou sobreviver nesse trânsito? Tudo que eu construí está aqui… para onde eu iria?”
Outra disse que é solteira e não queria se arriscar a fazer sozinha a jornada de 800 km até sua família, em Shiraz. “Mesmo eu tendo carro, o que mais me assusta em deixar Teerã é a distância, a falta de combustível e outros problemas que possam surgir como o carro quebrar”, afirmou.
Ela disse que amigos que deixaram Teerã ficaram presos no trânsito por horas.
“O que normalmente leva de 10-12 horas, levou 20. E não há passagem de ônibus disponível.”
Uma mulher, de 40 anos, e que tem dois filhos pequenos, contou à BBC que ela “não vai a lugar nenhum”.
“Sendo muito sincera, eu estou exausta demais para pensar em deixar a cidade e depois voltar para encontrar minha vida destruída. Trabalhei muito duro todos esses anos, passei pela Covid, inflação, tudo. Eu lutei muito para chegar até aqui. Se tudo vai ser arruinado, então prefiro que eu e meus filhos fiquemos com a nossa casa, porque eu não tenho forças para começar tudo de novo.”
Esse dilema também é sentido, de forma dolorosa, por milhões de iranianos que vivem fora do país, e se preocupam com seus entes queridos, tentando manter contato por meio de conexões instáveis de internet.
Um usuário do Instagram escreveu: “A gente achava que a parte mais difícil da imigração era a saudade de casa. Mas agora, com a guerra, a gente aprendeu o que é a verdadeira angústia de estar longe.”
Alguns iranianos que vivem no exterior disseram que seus parentes se recusaram a sair, apesar dos apelos.
Em resposta a mensagens como essa, um morador da capital escreveu: “Alguns de nós não têm dinheiro. Alguns não têm pra onde ir. Não nos digam simplesmente para sair.”
Qual a origem da rivalidade entre Israel e Irã
Quem é o líder supremo do Irã, Ali Khamenei, e qual a influência de sua família?
De que lado estão as grandes potências — e o Brasil — no conflito entre Israel e Irã